segunda-feira, 20 de junho de 2011

Porto Seguro.



Nós caminhávamos em uma trilha de pedras que nos conduzia entre arvores e flores, era tudo muito bonito, era o tipo do lugar que eu gostaria de visitar pelo menos uma vez por semana. Mas antes que eu pudesse me dar conta de onde estava eu finalmente percebi. Lá estava ele, caminhando ao meu lado, então reparei que ele o fazia sem dificuldades. Ele parecia jovem, bonito, e demonstrava um grande interesse em observar a paisagem. Borboletas, eu me lembro muito bem quais eram suas favoritas, asas de cor azul marinho com manchas pretas, grandes e bonitas a ponto de se encaixarem na palma da mão. A principio eu me perguntava o que estaria acontecendo, poderia ser um sonho? Talvez, eu realmente não conseguia me lembrar como havia chegado ali. Enquanto caminhávamos diante da trilha, que agora ia se tornando cada vez mais bonita, eu tive vontade de conversar com ele. Mas não sei se tive coragem, pois eu apenas o observava, ele me olhava de volta e sorria. Eu tinha certeza de que aquilo significava que o silencio já era o bastante.
Chegamos então ao final da trilha, e a paisagem revelada era ampla, uma enorme cachoeira se mostrava à nossa esquerda, à nossa frente tinha uma arvore bem bonita, com os troncos enormes, e ao lado dela havia uma espécie de maca, toda revestida em ramos de folhas. Antes que eu pudesse me perguntar o que aquilo significava surgiram três pessoas, todas as três com a mesma roupa - uma túnica branca e sandálias de cor bege - e todas as três eram muito familiares. Então o individuo do meio, que aparentava ser o mais velho e mais sábio dentre eles, se dirigiu a mim e disse: “Ele vai ficar bem.” Eu não sabia o que dizer, mas de alguma forma eu entendia o que estava acontecendo. Ao olhar novamente para o homem que eu tanto admirava, tive a impressão de que estava prestes a chorar, mas o olhar que meu pai dirigiu a mim foi tão confortante que a vontade de sorrir foi mais forte do que as lagrimas que insistiam em ameaçar meus olhos. Não havia nada a ser dito, “ele está entregue” eu pensei. Ele sorriu de volta, e eu sabia que aquilo significava que eu o veria novamente. Ele se virou para se deitar na maca, os ramos de folha o envolveram calorosamente e então, ele finalmente fechou os olhos.
Parece que finalmente chegamos ao fim da trilha. Nossa história não começou aqui meu caro companheiro de guerra, e eu tenho certeza, também não terminou aqui. Não vai ter um único dia em que eu não sentirei sua falta. Eu sei que você sempre estará ao lado daquela cachoeira, seguindo a trilha de pedras. Eu sei que sempre poderei te visitar. Este é o meu porto seguro. E mesmo que este lugar esteja apenas em minha cabeça, porque é que isso deveria significar que não é real?



2 comentários:

  1. Nem sei o que dizer. Eu gostaria muito de poder visitá-lo e me lembrar, como acontece com você. A gente vai sentir muita saudade e um dia a gente se vê de novo.

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  2. Você se tornou um ser humano admirável, Enrique. Não esperaria outra coisa de você, na verdade. Fico contente de ver sua sobriedade e clareza de percepção nessas situações. Ele está melhor agora, sabemos disso. Amo muito sua família, estarei a disposição de vocês. Beijos!

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